quarta-feira, 9 de junho de 2010

Ondas Peruanas















Pôr do Sol em Chicama com suas ondas extensas.














ondas de sonho em El Faro (foto: fotógrafo peruano Pepe Romo Reátegui).


Uma cidade desenvolvida ao redor de uma fábrica de cimento, da pesca e da agricultura. Até ai, a única dica é que esta cidade provavelmente está no litoral. Se acrescentarmos que o esporte principal praticado nesta região do norte do Peru é o surf, fica mais específico ainda, pois falar do Peru e de surf, nos remete a vários locais no litoral deste país recheado de ondas, sendo o norte, na região de Pacasmayo, um lugar muito especial. Uma cidade pequena que representa bem a realidade de países subdesenvolvidos da América Latina.
Cidades pobres que parecem estar paradas no tempo, mas que possuem uma atmosfera relaxada e informal que acabam contagiando os turistas, e neste caso específico, os surfistas.
A praia com um antigo cais, que funcionava como porto, tem uma extensa calçada com muitas casas de época, com características marcantes da arquitetura espanhola e muitas barracas de vendedores de artesanato. É bem agradável transitar neste local da cidade observando as famílias peruanas curtindo a praia, os barcos de pescadores alinhados na beira d’água e o extenso pier que avança mar adentro. Adiante, após subir uma ladeira, ao lado do cemitério, há uma estátua que seria a versão do Cristo Redentor da cidade e um mirante de onde se pode ver a cidade do alto e um incrível pôr do sol que com certeza fica guardado na memória.
As ruas mal pavimentadas, com calçadas estreitas e pequenos edifícios e casas mal conservadas dos dois lados, cria um cenário de um ambiente largado e esquecido pelo governo e aumenta a idéia de isolamento do local. Os famosos Tuc tucs, motos de 3 rodas que são conduzidos de uma maneira nada suave pelos seus pilotos, são os táxis da cidade.
Mas a maior atração deste local é a onda de “El Faro”, o farol. Para chegar lá, deve-se pegar um tuc tuc e no valor aproximado de 5 reais, o motorista leva 2 surfistas sentados atrás, cada um com sua prancha, num trajeto de mais ou menos 10 minutos por um terreno super acidentado, um verdadeiro rali no meio do deserto e cheio de pedras que faz o pequeno transporte pular de uma maneira surreal que se torna uma experiência dolorida e muito engraçada. Depois vê-se o Farol imponente na paisagem e as ondas quebrando e formando uma linha perfeita que parece de mentira de tão perfeita e longa. Um paraíso para a prática do surf. Uma revoada de pelicanos selvagens, quase pré-históricos, dá as boas vindas e aumentam a adrenalina e a ansiedade do momento. Momento esse de muita alegria e satisfação por estar ali e poder usufruir de um lugar tão diferente, com uma beleza muito específica. Um paraíso diferente daqueles de águas transparentes e coqueiros. Um paraíso com vento e sol fortes, água fria, ondas longas e perfeitas e além do farol, um barco naufragado que vai se expondo aos poucos com a maré secando. Depois de horas de deleite e muita remada, o tuc tuc faz o passeio de volta para o almoço esperado que será cheio de conversas animadas. Realmente vale a pena passar a noite no ônibus, desde Lima, até ali.
Mas ainda tem outro tesouro que se encontra a 1:30 de carro de Pacasmayo e esse tesouro se chama Chicama. O caminho lembra outro planeta, talvez Marte, ou poderia ser também a Lua, devido aos inúmeros morros cinzas de areia sem árvores que formam a paisagem. Depois de um tempo, muitos vilarejos bem humildes começam a surgir e mais uma vez nos sentimos muito isolados em um lugar esquecido, quase abandonado. E mais uma vez o litoral aparece e atua como um remédio para a degradação dos vilarejos a sua volta, trazendo a beleza, a pesca, a brisa e uma sensação de liberdade. Chicama existe, não é miragem no deserto. Uma fábrica de ondas num cenário de outro mundo. Pra quem surfa, não tem como não se lembrar dos momentos de aulas chatas no colégio, onde desenhávamos as ondas perfeitas no caderno, sonhando em um dia poder surfá-las. Em Chicama este sonho pode se realizar.
Um sorriso feliz e uma idéia de ser um sortudo por estar ali são imediatos. Uma onda atrás da outra, nos fazem entrar e sair do mar sem querer que o dia acabe. Mas ele acaba com o sol sorrindo por trás das ondas, refletindo sua forte luz, gerando uma cor dourada luminosa em suas paredes dando a impressão de que estamos surfando uma onda de ouro. E é realmente isso. Chicama é a onda de ouro.













Vilarejo perto de Chicama.














Panorama de Pacasmayo.
















Morros marcianos no Peru.



Rua em Pacasmayo e saudação na chegada em Chicama.




















Visual da praia de Pacasmayo com o Farol na ponta e o Cristo Redentor da cidade.




















O pier avança e os barcos repousam. O pôr do sol finaliza o dia.


































As imagens das ondas de Chicama e El Faro vistas do alto (imagens do google earth) mostram as ondulações sincronizadas entrando nas bancadas e formando linhas perfeitas.



(autor do texto e fotos, exceto as indicadas: Rick)







segunda-feira, 7 de junho de 2010

Charges

Algumas charges que fiz em 2008, inspiradas no grande problema da desigualdade social que assola o nosso país.

Manhattan



A luz do sol entra pelas laterais da janela e nos faz despertar para mais um dia. A cama fica pra trás e a mão desloca um pouco a cortina e revela os edifícios altíssimos com seus andares de escritórios. As luzes de alguns deles ficaram acesas durante a noite toda e um copo de papel de café repousa em uma das mesas. Depois do banheiro, voltamos pra cama. Aliás que cama! Talvez a mais confortável que exista, com seus travesseiros com quilômetros de comprimento e seu colchão de maria mole. No Algonquim, o hotel mais antigo em funcionamento na cidade, os quartos tem uma atmosfera do passado, com móveis, iluminação e espaços internos que nos fazem ter certeza que este hotel é diferente dos hotéis de hoje. As paredes do corredor dos elevadores divertem com um papel de parede estampado recheado de cartoons que fizeram parte da história do The New Yorker. Desde o elevador até o lobby, sentimos a outra época espalhada em cada detalhe. As colunas de madeira, as pinturas, o mobiliário e pra finalizar em grande estilo, podemos apreciar Matilda, a gata de estimação do hotel. Ela gosta de ficar repousando em cima do balcão de mármore da recepção com um certo ar de celebridade intelectual que de minuto em minuto é assediada por algum hóspede infantilizado com sua beleza. Ao sair do hotel, já se sente o movimento da cidade que nunca dorme e sua brisa matinal de primavera, que nos acorda de vez. Esquerda ou direita? São tantas opções, tantos lugares que às vezes não queremos planejar nada. Apenas deixar fluir e sermos levados a esquinas incríveis, becos improváveis e delis e cafés maravilhosos. O mundo está aqui, as pessoas, a arte. Estamos dentro dos filmes. Até a estação de trem vale a visita. Os edifícios poderiam oprimir os transeuntes pelas alturas descomunais, mas na verdade dão a sensação de organização, definindo os espaços e as ruas, criando praças entre si, com jardins organizados, fontes com o barulhinho agradável da água e contrastes interessantes ao lado de igrejas e construções antigas que permanecem entre eles. Além é claro de portarias e halls caprichados, como se a intenção fosse primeiramente embelezar o encontro do prédio com a calçada, privilegiando o cidadão. Se sentir vontade de se afastar do concreto e pisar na grama entre no gigante parque que todo mundo sabe o nome e que parece íntimo até de quem nunca visitou a cidade. A multidão parece não atrapalhar a caminhada e até aumenta a credibilidade do espaço que nos convida a olhar, sentir, ouvir e curtir. Crianças correm, brincam com balões, tomam sorvetes e se esbaldam no carrossel. A “praia”da cidade recebe grupos fazendo piquiniques e noivos e padrinhos tirando fotos de um dia especial e querendo que o parque seja o cenário. Miniaturas de barcos navegam pelo lago emoldurado pelos prédios ao fundo e nos indicam o caminho pelas árvores com troncos vistosos e esquilos saltitantes por todos os lados. A natureza inserida na cidade que pulsa sem parar e que nos dá de presente belos museus com obras de arte, história, informação e cultura, cafés e lojinhas com pequenas lembranças desses ambientes que poderão habitar as nossas estantes. No Village nos sentimos fazendo parte de algo bom. Passeando pelas ruas arborizadas com seus pequenos prédios com fachadas de tijolo e calçadas não muito largas dá pra perceber que esta combinação dá certo. Queremos estar ali, queremos passear por ali. Chega-se no Soho e os prédios parecem mais altos e muito deles tem as escadas externas para incêndio que ás vezes parecem atrapalhar e ás vezes parecem ser parte fundamental da arquitetura. Criam uma dúvida que logo é deixada pra trás quando nos deparamos com inusitadas galerias de arte que se abrem para a rua estimulando ainda mais a curiosidade de quem passa. Musicais e shows não faltam, pelo contrário, nos faz perceber o quanto temos poucas opções realmente boas em nossa casa. Mas faz parte, estamos em Nova York! Cidade de muitos problemas expostos ao mundo todo, todos sabemos, mas que ficam sempre em segundo lugar na disputa com as qualidades que a cidade tem. Afinal, apesar de tudo, a maioria das pessoas ainda quer conhecer, vivenciar, comer, assistir...a lista de verbos não tem fim. As pessoas querem estar lá..Você diz: “I want to be a part of it”.. e a cidade te responde: “it's up to you...já dizia a música.









































(autor do texto e fotos: Rick)